Negócio próprio exige preparo e determinação do empreendedor

Park Office | 17 de julho de 2020

Empreendedorismo

Para ser empreendedor, é preciso ter força de vontade, persistência e não desistir diante das dificuldades.

Nos últimos anos, privados de empregos por conta crise econômica e agora pela pandemia, um grande número de brasileiros se lançou no mercado à frente de um negócio próprio para sobreviver. Já outros buscam empreender por opção. É normal, porém, que as pessoas tenham medo de investir as economias em um empreendimento que pode não dar certo. Para que isso não aconteça, é preciso se preparar.

O especialista em finanças pessoais e professor do Ibmec-DF, Marcelo Minutti diz que o segredo é o equilíbrio.

“É necessário equilibrar a capacidade de adquirir conhecimento e as experiências de vida”

Marcelo Minutti

Planejamento do empreendedor

Marcelo ressalta que o planejamento é fundamental. É necessário que o empreendedor analise o mercado que pretende atuar e tenha uma noção exata de quanto pretende investir. Se for preciso tomar um empréstimo, por exemplo, é preciso calcular tudo muito bem para não contrair dívidas com as quais não possa arcar no futuro.

“O planejamento é uma alternativa para quem não tem recursos disponíveis, mas só deve ser feito após um planejamento consistente”, enfatiza Minutti.

Tipos de empresa

Quanto a escolha do tipo de empresa a abrir, as opções mais procuradas são as startups e as franquias.

As startups são empresas iniciantes como modelo de negócio inovador e com grande capacidade de crescimento.

O termo, que inicialmente era empregado para empresas de tecnologia, passou a ser usado também para designar negócios iniciantes e promissores em outras áreas. Já nas franquias o empreendedor adquire o direito de explorar uma marca já conhecida no mercado, abrindo uma ou mais unidades de uma rede de um valor predeterminado ou licença.

Ganhos

Por aproveitar o conhecimento oferecido pelo franqueador, que é o proprietário do modelo de negócios já testado e aprovado, a franquia é mais segura. Porém, como todo investimento com baixo risco, também oferece ganhos menores a médio e a longo prazos.

Já as startups são apostas de maior risco, pois atuam em espaços pouco desenvolvidos ou inexplorados. Os ganhos, porém, podem ser bastante elevados a longo prazo. “Não existem fórmulas prontas. Depende do perfil do empreendedor, mas uma pessoa que prefere não correr muitos ricos deve optar pelas franquias. As startups são para os mais corajosos”, aconselha o especialista.

A escolha entre um modelo e outro, em outras palavras, depende das características e comportamentos pessoais. Antes de tudo, há uma regra que vale para qualquer tipo de empreendedor: é preciso ter força de vontade, persistência e não desistir diante das dificuldades. Outro requisito é ter capacidade de planejamento. “A pessoa certa para empreender é a que planeja metas, levanta informações e se preocupa com a qualidade. São indivíduos com atitude”, resume o gerente da Unidade de Atendimento Individual do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Enio Pinto.

O Brasil é um país repleto de pessoas criativas e com perfil empreendedor, mas isso não se reflete nos números. “As pesquisas mostram que o brasileiro é muito empreendedor, mas num aspecto quantitativo. Há muitos jovens com foco inovador, mas eles não representam a grande escala do país ainda”, explica o especialista do Sebrae.

Futuro

Regina Luna e o filho Caio Lages são donos da Casabela Persianas, um negócio de cortinas, acessórios e decoração que vem dando certo há quase duas décadas. “Eu trabalhava numa empresa do mesmo ramo, mas acabei ficando desempregada”, diz Regina.

O caminho trilhado pela empresária e o filho foi árduo: eles começaram a empresa na própria casa, no início dos anos 2000. “Hoje estamos prestes a nos mudar para o Casa Park para abrir mais uma loja”, diz a empresária, que tinha dois filhos para criar quando se viu sem emprego. “Na época, estava separada. O começo não foi tão difícil, mas tenho medo do futuro. Nunca dá para ter segurança quando se é empresária no Brasil”, desabafa.

Ao longo de 18 anos, a empresa enfrentou duas grandes crises. “A pior delas foi a de 2015 e 2016. Conseguimos dar a volta por cima, trabalhamos muito, sempre focados. Mas é sempre muito triste ter que cortar pessoal, principalmente gente que não merece”, afirma Regina.

Ela diz que não admite o fracasso. “Era proibido pensar em crise naquela época”, complementa. Diminuição de custos, quadro de funcionários, tudo foi pensado. Mas, ainda assim, a decisão teve que ser tomada no meio da crise. “Oferecemos facilidades e reduzimos nosso lucro naquele período de crise para podermos sobreviver”, conta.

Gestão é essencial

Os especialistas avisam que o sucesso de qualquer negócio é a profissionalização, principalmente na área de gestão. “A maioria das pessoas que buscam empreender no Brasil aposta em aproveitar algum hobby, como cozinhar. Mas geralmente elas dominam apenas a parte operacional e não sabem gerir o restaurante que querem montar”, explica Enio Pinto.

“Além de conhecer o lado operacional, é preciso dominar a gestão do empreendimento. Sem esse equilíbrio, não há como criar o comportamento empreendedor”

Ernio Pinto

Armin Reinehr conseguiu driblar a crise por meio da profissionalização. Ele faliu há três anos, mas voltou ao mercado com outro nome empresarial e novos sócios. Na retomada, teve assessoria do Sebrae, analisou os pontos fracos do negócio e buscou cercar-se de pessoas mais experientes. “A primeira empresa que montei era voltada à criação de websites e ao desenvolvimento de softwares para celulares, mas era um período fácil para as pessoas criarem seus próprios sites. A concorrência era muito grande”, explica.

Oportunidade

Na nova empresa, Reinehr manteve o segmento de atuação, mas mudou o tipo de serviço para consultoria. “Nós éramos uma startup mas não sabíamos muito bem o que faríamos. Fomos com o pé na porta e muita coragem e não deu certo. Agora criamos um novo modelo de negócios e não pensamos mais em mudar”, diz Armin.

Reinehr reconhece que na primeira empreitada tinha uma oportunidade a ser explorada, mas não pensou muito em como abordar a questão. “Criamos a empresa sem buscar mais informações. Só quando as dificuldades apareceram, fomos atrás de cursos de capacitação. Sentimos muito a crise, porque um dos primeiros setores que ela pegou foi o de informática”, desabafa. “Na segunda empreitada, usamos o conhecimento acumulado e incluímos pessoas com mais experiência. Tudo foi mais bem planejado”, explica.

A principal dica, segundo ele, é se inspirar em algo de que se gosta. “Você tem que fazer o que gosta, mas fazer bem, e diante das dificuldades sempre continuar tentando”, incentiva.

Marcelo Minutti, do Ibmec, reforça que o empreendedor precisa também ter conhecimento da área em que pretende atuar. “O empreendedor não deve ter preocupação com os mercados mais atrativos, mas sim, se tem capacidade de execução e as habilidades necessárias para empregar no que gostaria de propor ao mercado. Se a resposta for negativa, não recomendo que ele entre em uma área que não conhece”, alerta.

 Texto:  na íntegra: Correio Braziliense